19 outubro 2007

Auto da Compadecida


Esta semana comecei a ler o "Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna. Pô, como são bons os diálogos. O livro é escrito em forma de peça de teatro de rua, com um palhaço apresentando o começo dos capítulos. Bem que eu sabia que o Suassuna sempre gostou muito de circo. Eu já não sou muito fã de palhaços, mas me identifico muito com essa maneira de contar histórias através dos diálogos. To descobrindo aos poucos que este realmente é o meu dom. Também gosto muito das divagações sobre a morte , tema que está sempre presente não só nos livros dele, como na clássica e fantástica literatura de cordel.

Um trecho do livro:

SACRISTÃO: - Mas um cachorro morto no pátio da casa de Deus?
PADEIRO: - Morto?
MULHER (mais alto): Morto?
SACRISTÃO: - Morto, sim. Vou reclamar à prefeitura,
PADEIRO: (correndo e voltando-se do limiar) É verdade, morreu.
MULHER: - Ai, meu Deus, meu cachorrinho morreu.

(Correm todos para a direita, menos João Grilo e Chicó. Este vai para a esquerda, olha a cena que se desenrola lá fora, e fala com grande gravidade na voz.)

CHICÓ: - É verdade; o cachorro morreu. Cumpriu sua sentença encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre.
JOÃO GRILO: - (suspirando) Tudo o que é vivo morre. Está aí uma coisa que eu não sabia! Bonito. Chicó, onde foi que você ouviu isso? De sua cabeça é que não saiu, que eu sei.
CHICÓ: - Saiu mesmo não, João. Isso eu ouvi um padre dizer uma vez.
MULHER: - (entrando) Ai, ai, ai, ai, ai! Ai, ai, ai, ai, ai!
JOÃO GRILO: - (mesmo tom) Ai, ai, ai, ai, ai! Ai, ai, ai, ai, ai! (Dá uma cotovelada em Chicó)
CHICÓ: (obediente) Ai, ai, ai, ai, ai,! Ai, ai, ai, ai, ai!


hahahaha
Demais!